
Freitas, o homem que demorou a vida inteira a arrumar as ideias (isto, se é que já acabou), é um sortudo. Nesta altura, as previsões mais optimistas dá-lo iam num qualquer discretíssimo e compassivo tacho e pronto. Rejeitado pelos seus que há muito o não reconhecem como um deles; evitado pelos outros que com ele se assustaram, como nunca, aquando da sua corrida à presidência, acabaria pacificamente os seus dias, meditando, rezando, para finalmente se encontrar.

Costa, de cujo trabalho os funcionários gostam, estaria mansamente a deixar explorar essa sua virtude num recatado cargo de trabalho. Este homem, o do telefonema a Ferro (“então, pá...”, “o gajo, pá...”, uma mistura de “falam, falam...” com esterco) nunca estaria à direita d’O Eleito.
Nesses lugares estariam, como é vontade do povo, extensões do Sócrates idealizado. Homens limpos, entusiasmados com a sã ilusão de um projecto de mudança, homens exemplares, missionários de uma nova maneira de estar.
Todavia, com a naturalidade real do impensável que sempre acontece, ao lado de Sócrates, quais ratos transformados em alvos garanhões, estão Costa e Freitas. Queríamos lucidez, metodologia, pioneirismo; saiu-nos magia.
Capturados pelo espírito de Lisboa (que não suporta nem permite nada disso) os nossos políticos não conseguem libertar-se do queirosiano retrato da capital e, vítimas de encantamento, logo começam a condescender à mediocridade.
Ladeado de um português típico, vulgar, avesso ao Sonho e de um confundido ancião, quanto tempo aguentará Sócrates sem evidenciar sintomas destas influências? A indecisão e a vulgaridade espreitam, preparando o salto.
G, o Desconfiado
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